Sobre este novo filme de animação, li hoje no Y (Público) uma entrevista com o Produtor e Realizador Manolo Gómez. Trata-se de uma produção entre Portugueses e Espanhóis – quem diria! – e fiquei contente porque a indústria do entretenimento é já o motor de desenvolvimento de muitas cidades, o que face à conjuntura nacional é um sinal de ESPERANÇA!
Transcrevo aqui algumas passagens de Gómez:
“Tivemos muita dificuldade em conseguir o apoio das nossas televisões. Não sabemos claramente onde está o futuro desta grande indústria cultural, que é um motor de riqueza e de criação de emprego”
“Outra das nossas loucuras, do lado português como espanhol, é acreditarmos que é possível fazer filmes entre ambos, na animação, mas não só.
(…)
Estamos a estudar a possibilidade de continuar a colaborar para que a APPIA se converta num estúdio de referência europeu nas tecnologias de 3D. Isso depende muito de como vai correr o filme, mas também das políticas portuguesas relativamente ao cinema e à animação”
Por mim, podem contar já com o meu bilhete!
Faz-me lembrar a aula que tivémos com o prof. Câmara!… a ideia dele de trazer os estúdios da Pixar para Portugal pode não ser assim tão “louca”, e bem que o país precisa! 🙂
Já muitas vezes se disse que a animação é o cinema dos pobres. Do ponto de vista técnico, pode ser. Hoje em dia, para gerar um filme de animação é necessário ter alguma capacidade de processamento, muita capacidade de armazenamento e um programa de 3D que processe em 2 dimensões.
Para além da tecnologia, é necessária um argumento e capacidade de planificação. Claro que falta falar da pós-produção, que é o que necessita de maior investimento financeiro: é preciso dobrar as falas dos personagens (estúdio de som, actores e locutores), é preciso produzir a música (composição, orquestra e estúdio, se não se optar por música de livraria), editar a banda sonora, o que hoje em dia se faz em qualquer PRO-TOOLS caseiro, misturar num estúdio com licença DOLBY (existe um em Portugal) e finalmente processar para filme de 35mm num scanner (a Tóbis Portuguesa tem um ARRI) e produzir as cópias síncronas para exibição.
Quero com isto dizer que o grande investimento centra-se no know-how e nos acabamentos.
Sendo a tecnologia cada vez mais potente e barata e sabendo que o software processa a intervalação, o cinema de animação resume-se (quase) ao saber fazer.
Postas as coisas desta forma, e não se trata de simplificação, é óbvio que a grande dificuldade está na capacidade de produzir bons argumentos, já que o resto é quase fácil de obter. E este é o problema de base de todo o cinema em Portugal: não sermos capazes de parir boas histórias, mas boas histórias cinematizáveis, bem estruturadas, vendáveis.
Porque o cinema de animação permite contornar algumas questões fundamentais, como o “star system”, o enorme peso financeiro de uma rodagem (nunca menos de 400.000 euros para 7 ou 8 semanas de rodagem de uma ficção actual rodada na região de residência da equipe), já houve várias tentativas tanto de produzir animação portuguesa, como também de co-produzir ou mesmo de “vender” serviços de animação, como fazem japoneses, coreanos e até franceses. Nada disto funcionou até hoje porque não existe uma verdadeira política de investimento a médio ou longo prazo. Mas aí teríamos de analizar uma coisa bem mais complexa: o capitalismo português, que se caracteriza pela busca de lucros rápidos, o que não se compadece com prazos de formação e imobilização de capitais. É por isso que temos de continuar a ser “terreno arável” para outros ? Bem, desde que fique alguma sementinha, porque não ?
Em relação aos capitais de risco, continuo a concordar com o que o presidente Jorge Sampaio afirmou há algumas semanas atrás, quando acusou a banca e investidores portugueses de que procuravam o lucro fácil, e é verdade! Os bancos continuam a apostar em vender crédito, e claro está, que o “tuga” vai atrás…
Outro bom investimento neste país, sempre foi o betão, por essa razão pensam que um aeroporto gigantesco e linhas de TGV são a saída para a crise.
Em relação ao nosso “know how” em cinema, seja ele de animação ou não, penso que temos a nossa indústria a viver dos subsídios comunitários, estagnada, e que não aproveita para inovar… Por um lado é bom termos um Manoel de Oliveira, mas não deixa de ser vergonhoso o facto de não aparecer um jovem cineasta com experiência e visão ao nível internacional a dar cartas em festivais e salas de cinema!